O essencial é invisível aos olhos
- Pr. Marco Antonio Gonçalves | Teologia Exegética /
- 10 de set. de 2017
- 2 min de leitura
Anônimos em Recuperação - Centro de Estudos do MBCV sobre a Dependência Química
Ouvindo uma história me recordei de algo que me aconteceu. Minha filha Lya, em especial, era muito sensível ao olhar destas pessoas que vinham pedir comida e moedas na janela do carro.
Em certa feita estávamos nas bancas, e ela com cerca de quatro anos sentada em cima do balcão, de “chuquinhas”, como sempre fazíamos. Estas pessoas, muitas vezes, se aproximavam pedindo comida, e eu tinha o hábito de pagar uma refeição. Ela sempre perguntava: - “Papai ele não tem comida?” e eu explicava o que acontecia com aquela pessoa. Ela sorria e era sempre muito receptiva com eles.
Mas em certa feita, me afastei dela por um momento conversando com um amigo, e ao me voltar para ela vi que estava conversando lá sentada no balcão, bem pertinho de um menino totalmente maltrapilho, e sujo de dormir na rua. Por um momento fiquei chocado, e sem reação ao ver que ela ofereceu uma mordida do sonho que estava comendo. Ela o coloca na boca do menino, com o rosto e mãos encarvoados de sujeira. Não sendo o suficiente ela dá também o seu copo de vitamina de morango, e eles passam a tomar juntos, e comem o mesmo lanche por algumas bocadas. Eu vou me aproximando devagar, enquanto a Lya, inclinando as chuquinhas, entrevistava ele:
- “Você não tem comida?” Ele responde apenas balançando a cabeça, de boca cheia. Ela dispara uma frase que mudou minha vida e meu ministério para sempre: - “E você não tem papai?”
Desde este dia eu me dedico com todos os meus esforços para abrir meus olhos, e conseguir enxergar o que a Lya com 4 anos pode ver naquele morador de rua. Nesta época eu estava realizando os estudos clínicos que viriam a formar o Anônimos em Recuperação, o Centro de estudos para Dependência Química do MBCV.
Muitos esforços foram necessários para abrir nossos olhos para o que sofre as mais duras mazelas do pecado sobre si. Recordo-me a primeira vez que trouxe um adicto de rua, e me sentei com ele em uma mesa de nossa cantina. Dei a ele um prato igual ao que eu iria comer, e fique ali escutando o que ele precisava me falar.
Esta é a história de muitos adictos recuperados do AR. Cada um foi convidado a fazer lanche comigo na cantina, nas ruas, ou sentado em uma calçada. Foi preciso uma criança de chuquinhas me ensinar que a igreja deve estabelecer a comunhão com o perdido, e o que significa compreender o Reino de Deus como uma criança.

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