PÁSCOA - "O cordeiro imolado, o preço de aquisição"
- Pr. Marco Antônio | MBCV/AR/Teologia Exegética/
- 2 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Pode até parecer uma proposta absurda, mas tem tudo a ver com a gente. É provável que ao pensar no conceito de páscoa apresentado no antigo testamento, logo você pense na libertação do povo Hebreu. Na verdade não era bem sobre “liberdade” que Deus fala nesta história. Vamos mergulhar neste conceito?
Apesar de assustar pela complexidade, a exegese bíblica é algo incrível que nos permite ter uma melhor compreensão da Palavra por meio de pesquisas relacionadas ao contexto histórico e aos idiomas utilizados pelos autores. Como todo exegeta que se preze, tenho o maior prazer ao estudar a Palavra neste formato mais profundo em busca de respostas.
Algo que me impressiona muito é a maneira com que interpretações de fatos e conceitos bíblicos vão se sobrepondo ao longo da história. A páscoa é claramente o maior de todos estes exemplos! Mesmo sendo um acontecimento pré-bíblico, ocorrido um pouco antes de começar a revelação bíblica a Moisés, e ainda passarmos por mais cerca de 1400 anos até a conclusão das Escrituras, a páscoa passa neste tempo por constantes ressignificações até os nossos dias, não anulando seu conceito original, mas se sobrepondo a partir desta base.
Antes de me aprofundar na exegese deste período bíblico, quero te fazer pensar comigo na soberania plena de Deus. Tudo neste mundo é precisamente calculado, quer ver só? Ao falar da páscoa, o livro de Êxodo no Cap. 12.6 a seguir (escrito 1300 anos antes), dá exatas instruções de que o cordeiro da expiação dos pecados deveria ser morto exatamente neste dia e hora do ano (décimo quarto dia do mês Nissan, à tardinha). Muito mais do que uma simples poesia, foi um capricho que mostra a precisão de Deus em cumprir Sua palavra, pois foi exatamente no dia e hora traçado ali que o Cristo expirou na Cruz. Impressionante, não?
Voltando ao assunto anterior, normalmente as pessoas remetem a Páscoa à mensagem de Libertação dos escravos do Egito - na verdade é algo muito mais profundo! Observe o que Deus diz a Moisés em Êxodo 3.12: “Esta é a prova que sou eu quem o envia, quando você tirar o povo do Egito vocês irão prestar culto a mim neste monte.” Aqui, nesta expressão “prestar culto”, existe uma riqueza que tem ficado pelo caminho ao longo das diversas traduções bíblicas.
A expressão em Hebraico é AVODA (prestar culto), deriva do termo AVOD (ser escravo, prestar trabalho adorar). Ela aparece novamente logo depois no capítulo 7.16 “E lhes dirás: O Senhor Deus dos Hebreus me tem enviado a ti dizendo: deixe meu povo ir para que me sirvam no deserto...”
É complexa a amplitude semântica desta expressão, que aparece cerca de 800 vezes no VT - chegando a ser citada com 700 anos de distância entre os autores. Todavia, algo fica claro: a páscoa não é marca de passagem do povo para a liberdade, é o estabelecimento de um novo conceito de escravidão que se apresenta como um convite ao povo, para que deixassem de serem escravos do mundo para se permitirem serem escravos de Deus.
Bem lá no começo da bíblia, está escrito: “Deus colocou o homem no Jardim para que o cultivasse (AVAD) e o guardasse.” Gênesis 2.15 - Eis a palavra cultivar ou lavrar em uma de suas primeiras aplicações (cronológicas)! O termo “AVAD” utilizado ali é uma prova de que Deus desejava que o homem o adorasse cuidando e trabalhando em sua criação.
O homem foi, desde a sua concepção, pensado por Deus para ser um escravo que O tem como seu único Senhor. Talvez isso tenha feito você se perguntar: “Pastor, mas Paulo fala em Gálatas que não somos mais escravos, mas sim somos filho!”. Verdade! Mas lembre-se que este versículo se encontra no contexto do Novo Testamento, e está ligado a ideia de deixarmos de ser escravos do pecado - não de Deus.
A prova disso está escrita em 1 Coríntios 7.22: “Da mesma maneira aquele que é chamado sendo livre agora é escravo de Cristo”. Portanto, fica claro que Deus espera que nos livremos das garras do pecado, aceitando Jesus, não só como Salvador, mas também como Senhor de nossas vidas. E então, depois de entender melhor, você está disposto a trocar a liberdade pela escravidão?

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